Os Métodos da Pesquisa Histórica: A Heurística
Samuel Ambrósio
6 º período, UFAM
6 º período, UFAM
Os passos e procedimentos de pesquisa na ciência e saber histórico tiveram suas bases desde o Iluminismo até aos dias de hoje. Diferente das demais ciências, a história, junto com a multiplicidade de técnicas, procedimentos diversos de pesquisa e teorias, não teve um padrão fixado. Desde os Annales vem crescendo uma consciência entre os historiadores de ser a ciência histórica uma ciência, um saber em eterna construção.
Desde o fetichismo da cientificidade as disciplinas do saber humano dos séculos XVIII e XIX aos dias atuais, os historiadores, inegavelmente herdaram dos velhos positivistas a noção de método científico na construção e representação do conhecimento histórico. Encontrar um modelo globalizante e matemático para a disciplinação histórica falhou, segundo Ginzburg, porque
“o emprego da matemática e do método experimental, de fato, implicavam, respectivamente a quantificação e a repetibilidade dos fenômenos, enquanto a perspectiva individualizante excluía por definição a segunda, e admitia a primeira apenas em funções auxiliares. Tudo isso explica porque a história nunca conseguiu se tornar uma ciência galiana.”[1]
Para Ginzburg a história não é uma ciência do demonstrável porque ela se baseia em resultados individuais e o ser humano não pode ser matematizável. As chamadas “ciências episódicas” baseiam-se em comprovações e demonstrações passiveis de repetibilidade, episódios recriados. Sendo o homem o produto e objeto final da pesquisa histórica, como queria Duby, como matematiza-lo? O homem pode ser agrupado, suas experiências, vivências, o modo de pensar não pode ser repetido.
Atualmente os historiadores não procuram mais encontrar teorias e métodos globais para a ciência história. Entende-se que o homem é produto de seu tempo e não pode ser agrupado. Este talvez tenha sido o ponto forte e fraco da historia. Entretanto, como herança dos velhos positivistas, os pesquisadores herdaram métodos de pesquisa, de obtenção das informações sobre dado tema em um dado questionamento sobre o passado.
Na busca de seu material de pesquisa, dos recortes que vai realizar, da escolha do tema e das fontes, o pesquisador defronta-se, de início, com a problemática das fontes documentais. O modo como irá organizar e problematizar suas teorias, métodos de trabalho e interpretação de seu trabalho irá depender desta fase de coleta documental. Chama-se Heurística é o processo de coleta, localização, reunião, sistematização, classificação das fontes históricas relevantes e em seguida fazendo listas, repertórios, índices remissivos, e o conseqüente exame do potencial informativo destas fontes documentais, orais, arqueológicas.
Segundo Astor Diehl, os passos da pesquisa histórica seriam três: heurística, crítica e interpretação[2]. Dentro deste tripé, o historiador estaria apto a construir suas problemáticas, plausíveis e viáveis. Parafraseando Marc Bloch, Ciro Flamarion Cardoso diz que as fontes são testemunhas que falam utilmente se soubermos fazer as perguntas corretas. Para ele, estas perguntas nascem da cultura histórica do pesquisador[3].
Após os procedimentos heurísticos, o pesquisador, com base em suas experiências teóricas e a necessidade de problematizar uma inquietação sobre dado tema, ele deverá fazer o exame crítico das fontes. A crítica das fontes envolve a crítica externa dos testemunhos, também conhecida como crítica da autenticidade. Aqui verifica-se a autenticidade documental, sua datação, origem, local de produção, procedência, motivo de sua configuração e sua singularidade.
A crítica interna, também conhecida como crítica da sinceridade. Aqui verifica-se o teor das informações contidas no documento. Segundo Jean Glénisson, aqui deve haver uma finura do pesquisador para a “boa compreensão do pensamento profundo do autor”[4]. Para o passo da Interpretação entra o trato e a “finura” do historiador em depreender a correta interpretação da mensagem que o documento oferece à construção de um pensamento sobre a informação coletada. Aqui entra o trato hermenêutico na interpretação da fonte documental.
Na heurística, o conhecimento sobre catálogos, verbetes, listas e fichários ajuda na composição e coleta de dados. É imprescindível que o pesquisador saiba manejar estas ferramentas de trabalho. Saber outros campos ter conhecimento mínimo nas chamadas ciências auxiliares como a paleografia, papirologia e criptografia dão ao pesquisador um maior manejo nas suas fontes documentais.
Para este trabalho foi escolhido um documento pertencente ao Arquivo Histórico Ultramarino, disponibilizado pelo Projeto Resgate. Os Cd’s do Projeto Resgate oferecem ao pesquisador um inventário já catalogado das fontes documentais com os verbetes, data, autor, destinatário, local. Desta maneira, um esforço de uma eventual catalogação deixa de existir cabendo ao historiador localizar suas informações. As fichas bibliográficas sobre localização, fundo, caixa e outras informações relevantes ao pesquisador já estão disponibilizadas.
O documento abaixo foi retirado do Cd relativo ao estado Grão-Pará. De acordo com a cota este documento faz parte do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), da Administração Central (ACL), do Conselho Ultramarino (CU), série (013), a caixa (1) e o número do documento (20).
Atualmente os historiadores não procuram mais encontrar teorias e métodos globais para a ciência história. Entende-se que o homem é produto de seu tempo e não pode ser agrupado. Este talvez tenha sido o ponto forte e fraco da historia. Entretanto, como herança dos velhos positivistas, os pesquisadores herdaram métodos de pesquisa, de obtenção das informações sobre dado tema em um dado questionamento sobre o passado.
Na busca de seu material de pesquisa, dos recortes que vai realizar, da escolha do tema e das fontes, o pesquisador defronta-se, de início, com a problemática das fontes documentais. O modo como irá organizar e problematizar suas teorias, métodos de trabalho e interpretação de seu trabalho irá depender desta fase de coleta documental. Chama-se Heurística é o processo de coleta, localização, reunião, sistematização, classificação das fontes históricas relevantes e em seguida fazendo listas, repertórios, índices remissivos, e o conseqüente exame do potencial informativo destas fontes documentais, orais, arqueológicas.
Segundo Astor Diehl, os passos da pesquisa histórica seriam três: heurística, crítica e interpretação[2]. Dentro deste tripé, o historiador estaria apto a construir suas problemáticas, plausíveis e viáveis. Parafraseando Marc Bloch, Ciro Flamarion Cardoso diz que as fontes são testemunhas que falam utilmente se soubermos fazer as perguntas corretas. Para ele, estas perguntas nascem da cultura histórica do pesquisador[3].
Após os procedimentos heurísticos, o pesquisador, com base em suas experiências teóricas e a necessidade de problematizar uma inquietação sobre dado tema, ele deverá fazer o exame crítico das fontes. A crítica das fontes envolve a crítica externa dos testemunhos, também conhecida como crítica da autenticidade. Aqui verifica-se a autenticidade documental, sua datação, origem, local de produção, procedência, motivo de sua configuração e sua singularidade.
A crítica interna, também conhecida como crítica da sinceridade. Aqui verifica-se o teor das informações contidas no documento. Segundo Jean Glénisson, aqui deve haver uma finura do pesquisador para a “boa compreensão do pensamento profundo do autor”[4]. Para o passo da Interpretação entra o trato e a “finura” do historiador em depreender a correta interpretação da mensagem que o documento oferece à construção de um pensamento sobre a informação coletada. Aqui entra o trato hermenêutico na interpretação da fonte documental.
Na heurística, o conhecimento sobre catálogos, verbetes, listas e fichários ajuda na composição e coleta de dados. É imprescindível que o pesquisador saiba manejar estas ferramentas de trabalho. Saber outros campos ter conhecimento mínimo nas chamadas ciências auxiliares como a paleografia, papirologia e criptografia dão ao pesquisador um maior manejo nas suas fontes documentais.
Para este trabalho foi escolhido um documento pertencente ao Arquivo Histórico Ultramarino, disponibilizado pelo Projeto Resgate. Os Cd’s do Projeto Resgate oferecem ao pesquisador um inventário já catalogado das fontes documentais com os verbetes, data, autor, destinatário, local. Desta maneira, um esforço de uma eventual catalogação deixa de existir cabendo ao historiador localizar suas informações. As fichas bibliográficas sobre localização, fundo, caixa e outras informações relevantes ao pesquisador já estão disponibilizadas.
O documento abaixo foi retirado do Cd relativo ao estado Grão-Pará. De acordo com a cota este documento faz parte do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), da Administração Central (ACL), do Conselho Ultramarino (CU), série (013), a caixa (1) e o número do documento (20).
Na figura 1 encontra-se a data (28 de julho de 1621), local (Lisboa), remetente (Conselho da Fazenda), tipologia documental (Consulta), cota (AHU_ACL_CU_013, Cx.1, D. 20) e verbete. Informações como o requerente, petição e outras informações são listadas no verbete. Segue-se abaixo o documento e a transcrição de acordo com as normas de transcrição
01 - Snor
02 - Fez lembrança a V.M.de neste tribunal Manoel de Souza deça das
03 - grandes necessidades que há no Graõ Pará (onde V.M.de manda por
04 - Capetaõ) de Religiosos que insine ao Gentio daquellas partes
05 - que são m.tos a nossas da Fé catholica para que tambem seatalhes
06 - a falsa doctrina que os estrangeiros que a ellas vaõ pella parte
07 - do Norte lhes ensinaõ, e porque as pessoas q. entre aquelle gentio
08 - tem mais autoridade e esidito saõ os padres da Companhia di Jesu
09 - e de Sancto Antonio que estao nas partes do Brasil e há entre
10 - elles pessoas de letras e vertude eque sabem bem as ligoas que po
11 - deraõ fazer m.to serviço a deos e a VM.de; propoem se sirva Vm.de
12 - demandas que de cada húa das ditas ordens vaõ dous religiozos
13 - c'o elle ao Graõ Pará mandando lhe consignar o que parecer
14 - necess.to para Sua Sustentaçaõ.
15 - Pereceo considerar a materia importancia della q. m.to desse
16 - ser servido mandar ao governador do estado do Bra
17 - zil a comunique c'o os Gerais das Religioes da Companhia de Jesu
18 - e da Ordem de Sancto Antonio e da parte de VM.de ha peça does
19 - relegiosos de cada húa das ordens que saibaõ bem as lingoas para
20 - q em comp.a do dito Capitaõ Manoel de souza deça vaõ c'o elle
21 - ao Graõ Pará para que insine aquelles gentios a nossa fé
22 - catholica e trate de sua conversaõ e que para sustentaçaõ desses
23 - quatro relegiosos desce VM.de mandar consignar o que parecer
24 - bastante para elle nos dizimos daquelles estados os quais os
25 - Summos Pontifices concederaõ aos Reis destes Reinos principal
26 - mente para ministros e obreiros que reduzisse e trouxessem
27 - a nossa fé ao gentio. Em Lix.a a 28 de julho de 1621.
28 - Dom Ant.o Masc. Antaõ da Misquita Fran.co Ferreira [?] Pinto Sebastiaõ de Carvalho
Bibliografia
ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO/PROJETO RESGATE - PARÁ
CARDOSO, Ciro. Uma Introdução à História. 5º Ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.
DIEHL, Astor Antônio. Do método histórico. Passo fundo: Ediupf, 1997.
GLÉNISSON, Jean. Iniciação aos estudos históricos. 4º Ed. São Paulo: Difel. 1983.
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e história. 2º edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia S. Silveira. História & Documento e Metodologia da Pesquisa. Belo Horizonte: Autentita, 2007.
VIEIRA, Maria Pilar de Araújo; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha; KHOURY, Yara Maria Aun. A Pesquisa em História. São Paulo: Ática, 1989.
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